4 de junho de 2012



Fim do euro: novo escudo desvaloriza 50%
Ao fim de cinco anos sem moeda única, economia recuaria ao nível da década de 90

PorRita Leça2012-05-28 10:15

É uma ameaça desenhada com a crise das dívidas soberanas e há cada vez mais vozes a apostarem no fim próximo da moeda única. A própria Europa já trabalha num plano onde a Grécia, submersa num caos político, ficará de fora. Se o euro acabar, como serão as próximas moedas?
O banco japonês Nomura fez os cálculos. Ao fim de cinco anos sem moeda única, tendo em conta a perda de competitividade dos países e a inflação, apenas a Alemanha ficaria à tona e até conseguiria valorizar 1,3% face ao atual euro. Do lado oposto, afogada numa desvalorização de 57,6%, ficaria a Grécia.
No segundo pior lugar entre os 17 países do euro: Portugal, com o novo escudo a sofrer uma desvalorização de quase 50% (47,2%). Espanha viria atrás, com o novo peso a valer menos 35,5% do que o euro, ficando assim pior do que a resgatada Irlanda, que sofreria uma desvalorização de 28,6%.
A moeda italiana recuaria, por sua vez, 27,3%, ao passo que a França sofreria uma desvalorização de 9,4% e a Áustria e a Finlândia de 6,8% e 6,7%, respetivamente.
No entanto, este cenário trata-se apenas de uma projeção, difícil de fazer num mundo sempre em mudança. O mais provável seria, no entanto, que os países recuassem a um cenário idêntico ao vivido nos anos 90, antes do euro, com um efeito psicológico intensamente negativo por terem deixado cair um adversário de peso contra o dólar.
Nos mercados, o sentimento seria apenas um: histeria. Fortes subidas e fortes descidas, com os países do núcleo duro da Zona Euro a beneficiarem mais das primeiras e os periféricos a sofrerem desvalorizações contínuas.
Outra preocupação dos periféricos, onde Portugal está incluindo, seriam as importações que ficariam, subitamente, mais caras. Já dentro do país, os preços tenderiam a cair. Um sobe e desce que poderia beneficiar, no entanto, as empresas nacionais que não estejam dependentes das importações, já que venderiam a um preço mais barato do que os seus concorrentes europeus.
Também a influenciar no peso do novo escudo estaria, de acordo com a Capital Economics, os custos unitários de trabalho. Aí Portugal também não ficaria em melhor situação. Pelas contas deste «think tank», de 1998 até 2011, os custos laborais aumentaram 32,2%.
Cenários hipotéticos mas que os investidores tentam, há muito, evitar a todo o custo. Por isso é que os juros da dívida dos países mais frágeis continuam tão elevados. No caso português, os juros cobrados para comprar dívida a 10 anos tocaram, na sexta-feira passada, os 12,6%, seguidos dos de Espanha e Itália, que se aproximaram dos 6%. Valores muito distantes dos 1,4% – juros cobrados à Alemanha, considerada de referência para a Europa.
Já esta segunda-feira, o risco da dívida espanhola superou os 500 pontos - alerta vermelho sobre o futuro do país vizinho. Depois das eleições gregas, a 17 de junho, Angela Merkel e François Hollande vão reunir-se com o chefe do governo espanhol, Mariano Rajoy, e o seu homólogo italiano, Mario Monti, em Roma, para discutir o futuro do euro.
Estes números são, de facto, um espelho dos pensamentos dos mercados: os investidores querem assegurar-se que, no caso de rutura do euro, os seus retornos serão pagos em moeda alemã.

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