Merecemos a solidariedade dos mais ricos e dos credores. ninguém tem a ganhar com a falência de Portugal
Este novo ano vai ser um ano difícil. Ninguém tem dúvidas quanto a isso. No entanto sejamos sinceros: qual dos últimos anos foi um ano fácil? Há muito tempo que Portugal não vive "um ano fácil". Tenho, apesar de tudo, confiança que 2012 poderá ser o ano da viragem. O governo nacional prepara reformas corajosas. A maioria delas já deveria ter sido feita há muitos anos. Na verdade Portugal tem vivido não só muito acima das suas possibilidades (gerido por uma classe política medíocre e alimentado por uma banca irresponsável) como tem adiado reformas urgentes. Deus queira que tenha chegado a hora da mudança. No entanto, como em qualquer mudança, existem sempre más consequências imediatas. É precisamente aí que se verá a criatividade do governo. Já ninguém, de bom senso, duvida que as coisas têm de mudar. Já ninguém duvida que vamos ter de cortar. No entanto, aquilo que devemos exigir ao governo é que faça as reformas necessárias ao país mas que as faça com os menores custos sociais possíveis. Além disso, que aposte não só na correcção das contas públicas como também no crescimento económico do País. Uma coisa não deve ser dissociável da outra. Bem pelo contrário! Basta ver a quantia da nossa dívida externa para concluir que para pagarmos o que devemos só conseguiremos se criarmos riqueza. Há quem já tenha feito as contas e concluído que Portugal necessita crescer 4% ao ano para conseguir pagar aquilo que deve. No entanto, e como se sabe, o nosso crescimento está muito longe dos 4%. Aliás, está negativo. Assim, sejamos sinceros: temos que renegociar a dívida (o volume total a pagar e os prazos) e algumas das metas assumidas com a 'troika'. Caso tal não se faça «vamos morrer da cura em vez da doença». Nestes últimos seis meses já demonstrámos que somos um País sério. Que cumprimos aquilo com que nos comprometemos. Em muitos casos fomos mesmo mais longe do que era exigido. Mais uma vez mostrámos ao mundo que quando queremos somos "sérios e cumpridores". Merecemos por isso a solidariedade dos mais ricos e dos credores. Aliás, ninguém tem a ganhar com a falência de Portugal. Nem os portugueses, nem os credores nem os europeus. O governo central, que aparentemente tem o apoio da maioria dos portugueses, deve apostar no rigor financeiro do país (cumprindo os défices) mas deve apostar igualmente em políticas sociais que protejam os mais vulneráveis. Senão Portugal poderá viver grandes convulsões sociais. Nesse caso, Portugal passa a ser olhado como "uma segunda Grécia". Seria o descalabro. A grande prioridade do governo deve ser evitar o desemprego e criar emprego. Isso só se consegue criando riqueza. É por isso que insisto: sim às soluções para os problemas financeiros mas com a prioridade - ou pelo menos em pé de igualdade - com a aposta na economia (o mesmo é dizer na criação de riqueza). Deve-se apostar em políticas e legislação que facilitem o emprego e não em políticas e legislação que facilitem o desemprego. O ano 2012 será o ano da verdade: ou Portugal passa o teste ou chumba. Se chumbar será, naturalmente, uma "carta fora do baralho" por muitos anos. Para desgraça do país. Se passar continuará a fazer parte de um dos maiores blocos do Mundo que é a União Europeia. Uma União Europeia que também ela tem pela frente um ano decisivo. Ou se reforma ou iremos viver anos de muita amargura. Existem, no entanto, vários dados positivos: a Europa já percebeu que o futuro não pode ser idêntico ao passado. Temos muito para mudar. Sejamos capazes disso. Diário de Notícias
Quarta, 4 de Janeiro de 2012